O
que motiva uma mulher a vender seu corpo para sobreviver? A este questionamento
são atribuídas uma infinidade de respostas que certamente não caberiam neste
artigo. A motivação para abordar esse tema surgiu após conhecer o ambiente de
degradação em que vivem as ‘meninas’ de um prostíbulo do município de Santo
Estevão buscando o sustento próprio e muitas vezes o da família.
São
adultas e sabem o que é bom ou ruim, sabem o que é certo ou errado, mas por
imposição do sistema ou de ‘alguém’, elas dividem o quarto e o banheiro com
outras companheiras, já cheguei a contar dezoito em um dia só, usam a mesma
cama para os programas, que geralmente podem variar de R$15 a R$35 reais, e tem
aquelas que contam ser mais interessante o programa com os idosos, pois estes
lhe trazem uma pequena feira de mantimentos.
Sempre
que possível, elas recorrem a uma pessoa que tenha mais facilidade de adquirir
‘produtos’, e pedem: “ô traz um gel pra
mim, as vezes a camisinha estoura porque eu fico ressecada, pois sem prazer não
lubrifica e o gel é bom para ajudar na penetração e ganhar logo o dinheiro do
cliente’.
Para
quem tem ouvidos de censura aguçada, o pedido parece grosseiro, mas ele retrata
a humilhação e submissão que uma jovem tem que passar para tirar o sustento da
família, e nessa história toda, a figura do homem em nenhum momento aparece
como o sacrificado ou a vítima, pois o que se percebe é a traição de alguns
para com a esposa que está em casa e a utilização da prostituta como um objeto
descartável que lhe dá prazer.
Neste
mundo infernal da prostituição que a mim foi apresentado através da observação
participante e pesquisa de campo, uma vez que me interesso pelo tema, já
encontrei garotas grávidas. Certa feita uma delas me disse que, “quando a
merda” nascesse, ela iria deixar na casa da avó paterna, pois já teve quatro
filhos todos foram doados para pessoas conhecidas.
Escutar
determinadas coisas choca, mas além do ‘chocar’, o que se faz necessário é
buscar solução para a problemática da prostituição de classe C, pois até neste
infernal mundo que venho conhecendo através de estudos, existem níveis sociais
diferenciados.
A
história nos mostra que a prostituição foi à primeira profissão a ser
reconhecida, mas o que está se discutindo aqui é a degradação da pessoa humana,
e neste caso específico, a mulher prostituta. Não reflito a ‘lisura’ do ato de
prostituir-se ou não, reflito aqui a desvalorização da MULHER.
Clecia
A. Rocha