Acemilton Gonçalves da Silva não precisa bater ponto, mas é um
trabalhador pontual. Todo dia, por volta das 8 da manhã, dá início a sua
exaustiva jornada de trabalho. Acemilton é jardineiro, mas, se preciso,
quebra uma como encanador e eletricista. Ele detém uma das funções mais
delicadas da República: manter a boa aparência dos célebres e
exuberantes jardins da Casa da Dinda, residência da família Collor de
Mello desde a década de 1960 e atual morada do senador Fernando Collor
(PTB-AL) em Brasília. São jardins inesquecíveis – especialmente para os
contribuintes. Durante o curto período de Collor na Presidência da
República, entre 1990 e 1992, os jardins da Dinda receberam cascatas e
lagos artificiais. A obra foi calculada na ocasião em cerca de US$ 2,5
milhões. Dinheiro não era problema naquele tempo. Os recursos haviam
sido fornecidos pelo ex-tesoureiro de campanha de Collor, Paulo César
Farias, o PC, que os arrecadara com empresários que dependiam do
governo. As fotos do local entraram para a história como um dos indícios
de corrupção que, meses depois, derrubariam Collor.
Há dez dias, Acemilton, como de hábito, chegou à Dinda pontualmente às 8
horas e estacionou seu Golzinho num imóvel em frente à casa. Quando
buzinou para que abrissem o portão, foi informado da presença de um
fotógrafo de ÉPOCA nas imediações. Acemilton deu meia-volta, parou o
carro longe da calçada e entrou às carreiras na Casa da Dinda. Vestia um
macacão marrom e calçava botas. Meia hora depois, apareceu atrás de um
arbusto, espiando o movimento na rua. Mineiro, de 47 anos, Acemilton é
um homem simples. Tem consciência de que sua situação é irregular.
Acemilton trabalha de macacão, mexe na terra com pás e usa tesouras de
poda – mas, para o Senado, não é um jardineiro. É assistente parlamentar
no gabinete do senador Collor, designado pela sigla burocrática AP08,
com salário de R$ 2.200 mensais. Acemilton, portanto, é empregado
doméstico de Collor. Mas quem paga seu salário é o Senado. Melhor
dizendo, o contribuinte brasileiro lhe paga para cuidar dos jardins da
Casa da Dinda. Questionado por telefone sobre sua situação, Acemilton
balbuciou algumas palavras sem sentido. “Você não pode falar essas
coisas do Acemilton sem a autorização do Acemilton”, disse... Acemilton.
Nenhum comentário:
Postar um comentário