Pontífice afirma que religiosos têm o direito de expressar sua opinião à sociedade, mas diz: 'Igreja não pode interferir espiritualmente na vida dos gays'
              O papa Francisco. Pontífice concedeu uma extensa entrevista para revista católica
              (Gabriel Bouys/AFP)
          
        “A Igreja se fechou muitas vezes em pequenas coisas, em pequenas
 mentes pensantes. As pessoas de Deus querem pastores, não clérigos 
agindo como burocratas ou membros do governo” Papa Francisco
      
Em uma extensa entrevista a uma revista jesuíta publicada nesta 
quinta-feira, o papa Francisco criticou o que classifica como "obsessão"
 dos clérigos em pregar contra o aborto e o casamento gay - e afirmou: a
 Igreja Católica não tem o direito de interferir espiritualmente na vida
 dos homossexuais. "A Igreja deve ser uma casa aberta a todos, e não uma
 pequena capela focada em doutrina, ortodoxia e em uma agenda limitada 
de ensinamentos morais", afirmou o pontífice.
Em entrevista publicada pela revista italiana La Civilta Cattolica
 (Civilização Católica) e veiculada em dezesseis países, o pontífice 
destacou que a Igreja tem o direito de expressar sua opinião sobre 
assuntos do interesse de seus seguidores, mas reiterou que os 
homossexuais devem ser aceitos com “respeito, compaixão e sensibilidade”
 pelos religiosos. “A religião tem o direito de expressar sua opinião ao
 servir as pessoas, mas Deus nos fez livres: é impossível interferir 
espiritualmente na vida das pessoas”, afirmou.
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Francisco recordou o discurso que fez após o término da Jornada Mundial da Juventude
 no Rio de Janeiro, quando se reuniu com jornalistas no avião para 
responder algumas questões. “Se um gay busca Deus, quem sou eu para 
julgar”, disse, na ocasião. O papa ainda relatou um episódio em que uma 
pessoa perguntou se ele “aprovava” a homossexualidade. “Eu respondi com 
outra pergunta: 'Diga-me, quando Deus olha para um gay, ele confirma a 
existência dessa pessoa com amor, ou rejeita e condena esta pessoa?' Nós
 devemos sempre considerar esta pessoa. Aqui entramos no mistério da 
humanidade”, disse.
“Ao dizer isso, eu falo o que está no catecismo”, acrescentou o papa,
 que também criticou a insistência da Igreja em abordar temas como o 
casamento gay e o aborto. “Não precisamos insistir nesses assuntos 
relacionados a abortos, casamento gay e o uso de contraceptivos. Eu não 
falei muito sobre essas coisas, e fui repreendido por isso. Não é 
necessário falar sobre isso todo o tempo”, declarou. E foi além: "Os 
ensinamentos dogmáticos e morais da Igreja não são todos equivalentes. O
 ministério pastoral da Igreja não pode ser obcecado com a transmissão 
de um conjunto desarticulado de doutrinas a serem impostas 
insistentemente".
Francisco reiterou que não tem todas as respostas para as perguntas 
dos fiéis, o que, segundo ele, seria uma artimanha de “falsos profetas”.
 “Os grandes líderes das pessoas de Deus, como Moisés, sempre deixaram a
 porta aberta para a dúvida. Você deve deixar a porta aberta para o 
Senhor.”
A entrevista de Francisco, no entanto, decepcionou católicos liberais
 no que diz respeito à ordenação de mulheres. O pontífice afirmou que a 
“porta está fechada” para esta questão, mas pediu para que a Igreja não 
atribua papeis secundários ou inferiores para as mulheres. “O 
gênero feminino é necessário se nós precisarmos tomar importantes 
decisões. Mulheres estão trazendo questões profundas que precisam ser 
discutidas. A Igreja não pode ser ela mesma sem as mulheres e o seu 
papel”, ponderou.
Pecador – Em outro ponto impactante da entrevista, 
Francisco surpreendeu ao se dizer um “pecador”. “Eu sou um pecador. Esta
 é a definição mais precisa. Não é uma figura de linguagem, um gênero 
literário. Eu sou um pecador”, declarou. Por fim, o pontífice pediu para
 que a Igreja possa encontrar um novo equilíbrio entre missões políticas
 e espirituais, o que eliminaria o risco de a instituição “desabar como 
um castelo de cartas”. “A Igreja se fechou muitas vezes em pequenas 
coisas, em pequenas mentes pensantes. As pessoas de Deus querem 
pastores, não clérigos agindo como burocratas ou membros do governo”, 
encerrou.
Veja 
 

 
 
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