quarta-feira, 8 de julho de 2015

Juiz compara funk 'proibidão' a versos censurados de Chico Buarque



Juiz compara funk 'proibidão' a versos censurados de Chico BuarqueEnquanto a polícia classifica como apologia ao crime os versos de funk que exaltam brigas entre traficantes rivais, consumo de drogas, sexo com menores e mortes de policiais, há quem os veja com outros olhos. O juiz Marcos Augusto Peixoto, da 37ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, caracteriza os funks "proibidões" como manifestação artística. A avaliação do magistrado está registrada em decisão publicada na última segunda-feira (6), em que rejeitou a denúncia de apologia ao tráfico apresentada pelo Ministério Público. Ao recusar a denúncia, o juiz comparou as canções de Paulo Martins Oliveira com as canções de Chico Buarque que criticava o regime militar."Chico Buarque foi um recordista de proibidões, a ponto de, por algum tempo, ter de passar a lançar músicas sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide, de modo a driblar os censores (...) Agora, tal proibicionismo se volta contra as músicas que nada mais fazem do que simplesmente retratar o diuturno cotidiano das favelas cariocas", justificou o juiz, segundo a Folha. Ao jornal, Peixoto reiterou que "sem dúvida alguma os proibidões são uma forma de arte" e é uma expressão cultural que deve ser respeitada e debatida. Na decisão, o magistrado citou o filósofo Michel Foucault e o dramaturgo Bertolt Brecht, e ainda criticou a conduta dos policiais. "[A ação] é uma tentativa de pacificação dos discursos dos excluídos - depois de terem invadidos e controlados seus territórios por Unidades de Polícias Pacificadoras (UPPs)", disse. O Comando de Polícia Pacificadora respondeu, por meio de nota, que continuará com as prisões contra quem escutar proibidões em público "enquanto apologia ao tráfico for considerada crime previsto em lei". O Ministério Público ainda não foi notificado da decisão.

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