segunda-feira, 29 de junho de 2015

Reestabelecimento de confiança marca agenda política de Dilma nos EUA

A presidente Dilma Rousseff desembarcou no sábado em Nova York e hoje começa sua agenda oficial com uma missão estratégica para a política externa do país: reconquistar a confiança do governo americano. A retomada do diálogo de alto nível será o principal objetivo da viagem de quatro dias que Dilma fará aos Estados Unidos. Na terça-feira, quando se encontrar com Barack Obama na Casa Branca, a presidente terá a chance de consumar o processo de reaproximação que teve início durante aCúpula das Américas, realizada em abril, no Panamá. Na ocasião, os presidentes se reuniram para discutir a agenda bilateral e disseram ter superado as desavenças desencadeadas pelas revelações do ex-analista de inteligência da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, em inglês), Edward Snowden.
Em 2013, documentos da inteligência americana vazados para a imprensa mundial mostraram que a NSA monitorou as comunicações pessoais de Dilma e as discussões de assuntos internos daPetrobras. Em retaliação, a presidente atropelou os esforços do Itamaraty e, em uma decisão voltada para o cenário eleitoral da época, cancelou a visita de Estado a Washington que estava programada para outubro daquele ano. "Nos Estados Unidos, a reação de Dilma - particularmente o cancelamento da viagem - foi considerada excessiva e uma demonstração de certa ingenuidade do Brasil nas políticas internacionais", disse o brasilianista Peter Hakim, presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue.
Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP, afirma que há dois anos havia uma pré-disposição muito maior do governo americano em buscar um alinhamento produtivo com o Brasil. "Se lá atrás havia essa expectativa, hoje o desequilíbrio é muito claro. O Brasil preza muito mais pela reaproximação do que os Estados Unidos. Para o Brasil há um caráter estratégico, para os Estados Unidos é só mais uma reunião. Não existe nenhuma prioridade nesse encontro da parte deles", diz a professora que, no entanto, considera "muito importante do ponto de vista simbólico o reestabelecimento da confiança" entre os países. "Toda relação bilateral só consegue avançar para assuntos mais pertinentes na medida em que as partes confiam uma nas outras", explicou.
Parceria militar - A balança desregulada diminui a expectativa de que acordos concretos sejam anunciados durante a estadia de Dilma nos Estados Unidos. Contudo, apesar de a viagem ter um aspecto essencialmente econômico, é provável que os presidentes aproveitem a oportunidade para firmar parcerias na área militar. Há tempos o Brasil tem procurado compradores para produtos do setor defensivo e interessados em investir neste campo. Ampliar a cooperação militar seria uma forma de dar por superado outro mal-estar criado após os vazamentos de Snowden. O governo brasileiro tinha um acordo de 4,5 bilhões de dólares (mais de 13,5 bilhões de reais) encaminhado com a americana Boeing para adquirir caças F-18, mas desfez o negócio ao selar a compra de 36 aviões da Suécia. As negociações pelas aeronaves já duravam mais de quinze anos.

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