segunda-feira, 13 de maio de 2013

Ou você é médico ou você é coveiro


Certo dia, fui ao consultório de um profissional da área de saúde, chegando lá, informei que minha voz estava muito rouca. O médico solicitou diversos exames complicados e com isso, ele constatou que haviam vários nódulos nas minhas cordas vocais. Após avaliação médica, o mesmo me encaminhou para outro profissional, com o objetivo de tratar das minhas da área afetada pelos nódulos.
Lá chegando, o fonoaudiólogo, que é especialista em voz e cordas vocais me fez as seguintes perguntas: O senhor sabe qual o motivo que está provocando o aparecimento de calos nas cordas vocais?  Eu prontamente respondi que não tinha a menor idéia. Ele tornou a me questionar: Qual a sua profissão? Eu imediatamente lhe dei a resposta: Sou professor! O médico me respondeu que a conseqüência disso era minha profissão, uma vez que me esforço muito para que os alunos aprendam.
A consulta foi demorada e no tempo em que estava no consultório, eu informei ao médico: “Doutor”! Acho que os alunos devem aprender, pois acredito que através de uma boa educação é que as pessoas desprovidas de direitos sociais podem ter acesso aos diversos bens, entre eles os bens culturais, intelectuais, sociais e principalmente o de se tornarem pessoas criticas, exigentes dos seus direitos e cumpridoras dos seus deveres.

Então, ele me respondeu: professor, já pensou se todo  mundo fosse médico, quem seria o coveiro? Eu prontamente respondi que sempre iria ter pessoas que poderia fazer trabalho de coveiro, que é muito importante para a sociedade.

Depois de muito tempo, ao sair do consultório do fonoaudiólogo, fazendo uma reflexão sobre os alunos da atualidade, onde na maioria das vezes são filhos de pais separados, pais estes, que não dão a mínima para o bem estar social dos seus filhos com relação ao futuro profissional.
Muitos dos pais dos alunos da sociedade contemporânea imaginam que tudo deve ser imediato, são pais que recebem bolsa auxílio do Governo Federal e compram aparelho celular, muita das vezes com valor superior ao que ganha.
Por conta dessa triste realidade, que o nosso país está com o índice educacional abaixo de outros países menos desenvolvido, a exemplo de Angola, México, Argentina, Chile, etc.
Após inúmeras seções para o tratamento das cordas vocais, sempre vinha á tona a frases que o profissional da fonoaudiologia me disse. Pensei, pensei e tirei a conclusão que deveria escrever algo sobre esta frase. Ou você é medico ou você é coveiro!
Analisando e refletindo  me veio à idéia que para ser médico, é preciso se ter muito tempo para estudar, comprar bons livros, freqüentar aulas em laboratórios, participar de seminário, estudar muito.
E para ser coveiro, pensam que não é necessário, basta ter porte físico para pegar no pesado, na picareta, na enxada, ficar de sol a sol, no relento, não fazer reflexão sobre as suas possibilidades para uma ascencensão social desejada. Tomando sol e chuva, e receber um salário que mal dá par sustentar seus filhos.
E para ser médico não, basta ser branco, o pai ter condições de bancar. E quem são os coveiros? São sempre os negros, mulatos, sem nível de escolaridade, não precisa estudar. Isso é para pobre, pobre não precisa de estudo. Pobre precisa é de pão e circo, música de pagode para mexer a ‘bunda’ se for mulher, funk, tomar cachaça, folha podre. No máximo conseguem apenas a conclusão do 2º grau, e na escola pública, esta sem as mínimas condições estruturais. Sempre faltando material didático, alunos revoltado com a unidade de ensino.
Raramente um chega à Universidade, e quando chega é através de cotas. Esta cota sempre questionada pela classe privilegiada, sempre dizendo para os estudantes escola pública, você  só entrou na universidade por que foi pelas cotas.
Ou outro, quando entra na sua maioria vai fazer licenciatura para ser professor. Para ter um salário de que não dar para suprir sua necessidade, precisa trabalhar 60 horas.
E o médico, quando vai estudar, sempre vai para os melhores centros universitários. Quando concluir a faculdade, faculdade não universidade, é chamado de ‘Dr.’ o coveiro não, não dar tempo de estudar, se ele estuda, não consegue ter muito êxito, é muito estafante o seu trabalho. Se na hora do enterro a cova não estiver pronta, os donos do defunto ficam chateados com ele. Mas o médico não, ele não veio hoje, por que estava numa conferência, para adquirir mais experiências. O coveiro não, coveiro não precisa participar de conferencia, só precisa saber pegar no cabo da picareta, não precisa saber ler, não precisa saber escrever nada, não precisa pensar, coveiro é coveiro, medico é medico. Você precisa escolher, ou você é medico ou você é coveiro. 
Gostaria de salientar que esta palavra médico, referiu-se a profissões elitizadas, executada pela classe privilegiada, assim como  advogados, dentistas, fonoaudiólogo, engenheiros, juízes, enfermeiro, professor, profissões de destaque social.

E a palavra coveiro, se refere às profissões menos privilegiadas, não precisa de muito estudo, basta ter o ensino fundamental. Pedreiro, carpinteiro, eletricista, jardineiro, empregada doméstica, são profissões, que assim como um coveiro, ainda sofrem discriminação por parte da sociedade.

Por José Reis
Professor e escritor





Um comentário:

  1. Gostaria de frisar que às vezes ser coveiro não é uma opção do individuo, mas sim as condições que lhe são oferecidas desde a sua tenra idade. Por exemplo, o filho de um carpinteiro, de um trabalhador rural, do biscateiro, do catador de papelão, maior de rua, estes terão as mínimas condições possíveis para se tornarem médicos .Quem deveria oferecer oportunidades para que estas crianças, não se tornarem coveiros era a escola,através da secretaria da educação, no entanto esta continua oferecendo as mesmas ferramentas tecnológicas do século 18. Como os filhos destes “coveiros" poderão se tornar "médicos", se não for através de uma transformação social que é a educação escolar?

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