quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

ONTEM-HOJE-AMANHÃ

Ela se chamava Gabriela e preparava-se para a festa dos quinze anos. Feições simples, simpática, fazia tudo com intensidade. Líder na escola, invariavelmente, recebia as melhores notas. Ao retornar para casa um motorista embriagado causou-lhe a morte. Em seu tumulo foi escrita uma frase, que resume sua vida: ela fez tudo que podia, quando podia.
O ANO DE 2011, cansado, afunda no oceano do passado, enquanto desponta cheio de cores e promessas o Novo Ano. É um momento propício para uma meditação sobre o papel do tempo. Já o genial Agostinho de Hipona, no século IV, ficava perplexo diante do tempo, algo que todos sabem o que é, mas que ninguém consegue definir.
OS ROMANOS tinham uma divindade protetora do tempo, chamada Occasio, isto é, a Ocasião Oportuna, o momento certo. No futebol, numa orquestra, numa solenidade, existe sempre o momento certo. No futebol, numa orquestra, numa solenidade, existe sempre o momento certo. Não antes, nem depois. Há um tempo certo para a fruta madura. Antes é verde, depois apodrece.
OS GREGOS também se debruçaram sobre o tempo e acharam melhor dar-lhes duas dimensões. Cronos é o tempo comum. É o tempo do calendário, da cronologia. Já o Kairós é o tempo de Deus. É a passagem de Deus pela nossa vida e que suscita tempos especiais, densos de vida e de salvação. São esses momentos que fazem a diferença na nossa vida.
NA IMPOSSIBILIDADE de engessar o tempo, para melhor situá-lo, nós o cortamos em fatias: minutos, horas, dias, meses, anos e séculos. Também tentamos percebê-lo através de três dimensões: passado, presente e futuro. Ou ainda: ontem, hoje e amanhã. Mesmo assim, não sabemos comportar-nos diante desses três estágios. Preocupamo-nos  com o ontem e o amanhã e descuidamos o hoje. O passado é definitivo e imutável, o futuro é desconhecido. Na realidade, sobra apenas o momento presente.
SANTO Agostinho deu-se conta de que ele jogava para o futuro suas decisões, que implicavam mudança de vida: “Amanhã, sempre amanhã, porque não hoje?” O raciocínio está correto. Deus oferece sempre, e a todos, o perdão, mas não garante a ninguém o dia de amanhã. O tempo de Deus é hoje. O passado deve ser entregue à misericórdia, o futuro à providência. Peregrinos, terminais, sem previsão de chegada, temos em mãos a preciosa moeda do presente. É com ela que podemos construir a eternidade.

+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
di.vianfs@ig.com.br

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