quarta-feira, 16 de abril de 2014

A PÁSCOA DESEJADA

A Páscoa sempre representou a passagem de um tempo de treva para outro de luz; isto muito antes de ser considerada uma das principais festas da cristandade. A Páscoa cristã não era uma libertação política do poder dos romanos, como os judeus esperavam. Poucos entenderam que o Reino de Deus transcendia o aspecto político, histórico e geográfico.

Hoje, ao celebrarmos a Páscoa, não o fazemos com sacrifício do cordeiro e alimentando-nos com pães sem fermento, pois Cristo se deu em sacrifício, como cordeiro pascal, para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime. 


A Páscoa, pois, é a fartura, é a plenitude, é a vida transbordante que não pode  nem deve ser contida por nenhum jejum. A Páscoa é a libertação de um povo que tem fome de pão, de justiça e
de esperança. De um povo que jejua há mais de 500 anos de seu sonho de igualdade; que teve a sua juventude ceifada, seus valores adulterados, sua dignidade de filhos de Deus, ultrajado da maneira mais torpe e cruel, obrigados a ver suas famílias perambulando sem teto e comendo lixo num país que é um dos celeiros do mundo.

Na periferia dos grandes centros urbanos se Jesus procurar um pedaço de pão e um pouco de vinho para sua última refeição, não encontrará, pois seus convidados estão de mãos vazias... Jesus manda que arrumem a casa, mas casa já não há, nosso povo habita sob um viaduto ou sob alguma marquise...

Ah, como esperamos por uma boa Páscoa!.. Quantas vezes Cristo terá que ser crucificado para que o povo de Deus ressuscite?  Quanto uma boa Páscoa é esperada!.. Os pobres esperam a fartura, os doentes a saúde, os melancólicos a alegria, os marginalizados a cidadania, os drogados a recuperação, os leigos a igualdade, as religiões a comunhão, os brasileiros a dignidade!..

Quantos mares teremos que atravessar para aportar na terra prometida? E ao pensar em Mar, olhamos nos olhos mareados dosjovens drogadas e abandonadas pelo Faraó; dos adultos excluídos, de famílias inteiras sem porto nem destino. Nesta frágil embarcação que é a vida e que navega por tantas águas perigosas suplicando uma nova travessia a pé enxuto. Felizmente haverá sempre a presença do Cristo a nos guiar, pois toda travessia é passagem; e com Ele toda passagem é Páscoa.

Celebrar a Páscoa éter a coragem de navegar em água calma ou revolta, com vento a favor ou em direção contrária. Celebrar a Páscoa é fazer refeição com o Cristo. O Espírito da Passagem nos impulsiona para frente. Para o novo. Para a esperança... Para sonhar que esse mundo pode ser diferente; que os cavalos e os cavaleiros do Rei não precisam vencer sempre... Que para além do deserto e do mar há um lugar muito lindo para todos, sem distinção; onde toda lágrima será enxuta. E esse mar que banha os olhos tristes será finalmente transposto.

Preparem os pratos e os talheres, encham as taças, limpem vossos corações e arrumem vossa casa interior para receber o convidado pascal. Não de seda ou linho, mas vistam vossos corpos com a roupa da justiça e da misericórdia para celebrarem a festa! A Passagem da morte para a vida; do desencontro para o encontro, do Eu para o Nós, pois há uma páscoa a ser vivida por cada um de nós. A Páscoa do Senhor é toda aquela que responde com eficácia à situação de desespero e morte, por que está passando cada família e cada comunidade. Foi das profundezas que Ele chamou seu amigo Lázaro. É das profundezas que Ele nos chama agora... É do âmago do sofrimento humano que Ele desata as amarras e liberta os que estão nos túmulos de uma vida sem esperança... É nessa Páscoa que pedimos ao Senhor, que liberte definitivamente o negro brasileiro da senzala eterna, para que eles possam caminhar livres, deixando para trás as amarras da opressão, do preconceito, e assim, possa dar o testemunho do Seu Reino. 

Ele é a Páscoa do pobre. Ele é o prato, o pão e a saciedade. Ele é a Páscoa da Igreja servidora. Ele é a Páscoa dos pais e dos filhos, do branco e do negro. Ele é a Páscoa dos sem terra, dos sem teto, dos sem nada... Ele é o vinho. O som. O sabor. O alívio e o conforto. Ele é a Páscoa dos profetas, dos perseguidos, dos mutilados, dos famintos, das prostitutas, dos gays, dos foras da lei e dos drogados. Ele é a Páscoa de todos nós...

De bom alvitre será, pois, dizer ao povo que Ele ouve o clamor que chega dos miseráveis, dos órfãos e das viúvas. Dizei aos pastores que animem seu povo. Ele já vem! Eis que chega com a aurora, flutuando sobre a terra e trazendo a história nas mãos. Invadirá as plantações e saciará os famintos. Destruirá os Templos que exploram os humildes. Denunciará os Governos deste mundo, subverterá a ordem estabelecida e anunciará o seu dia. O dia do Senhor!

Ele é o pão, a mesa, o prato, e o vinho. Preparem a refeição. Ele bate à porta. A porta só abre por dentro. Ele espera. Se vocêabrir, Ele fará a refeição com você. E vocêjá não será o mesmo. Sua casa não será a mesma. Tudo se modificará. - E de grão em grão Ele fará o pão. E de uva em uva Ele fará o vinho. E quando formos muitos não haverá mais fome, nem sede, nem frio, nem dor, nem desabrigado. Seremos fartos, plenos de vida.
Ele está à porta esperando para entrar! Abrae diga: Senhor eu sou digno que entreis em minha morada, apiede-Se da minha almapara que eu sejasalvo.

FELIZ PÁSCOA


Por Manoel Lobo

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