quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Audálio Dantas recebe prêmio Jabuti por biografia de Vladimir Herzog




Considerado uma “quitação de dívida” por Audálio Dantas, seu mais recente livro “As duas guerras de Vlado” receberá no próximo dia 13 de novembro o Prêmio Jabuti de literatura. A obra conta a trajetória do jornalista Vladimir Herzog desde sua infância na Iugoslávia e Itália até seus últimos dias no Doi-Codi, vítima da ditadura militar no Brasil.

Audálio esteve no 8° Congresso da Abraji para falar sobre o novo trabalho e o papel de biografias como retrato histórico. “Eu não pensei em nenhum momento em obter prêmios com este trabalho, mas o Jabuti tem um sentido muito forte, principalmente porque este livro é biografia e história ao mesmo tempo e eu, como jornalista, fiz questão de escrevê-lo como livro-reportagem”, conta o autor que no trabalho de apuração se deparou com novas questões sobre a versão oficial da morte de Vladimir Herzog.
Entre estas questões, Audálio destaca a total falta de veracidade dos documentos do regime mantidos atualmente no Arquivo Nacional, inclusive citando ele mesmo.  Segundo Audálio, nos documentos consultados era dado como verdade que Vladimir Herzog fosse instrumento do Partido Comunista Brasileiro para um projeto de dominação da imprensa nacional. “Os documentos não têm nenhuma consistência, eles fazem parte de uma mentira. Não havia como isso acontecer”, afirma.
“Ao mesmo tempo os documentos sobre a minha atuação revelam uma irresponsabilidade total porque em seis ou sete deles sou citado como pertencente a uma organização politica armada diferente e, absolutamente, nunca houve minha vinculação a nenhuma delas”, revela o autor, que também tornou-se personagem no próprio livro reportagem· Amigo de Herzog, Audálio lembra que a proximidade com o biografado atrapalhou em muitos casos a apuração.
Entre as situações mais delicadas, está a de dar entrada na documentação junto ao Arquivo Nacional, que exigia um atestado de óbito do falso suicídio do jornalista. Neste momento, a convicção de amigo superou o interesse de jornalista. “Eu me negava a apresentá-lo porque eu tinha certeza que o atestado dado era falso. Pouco depois a Comissão Nacional da Verdade determinou que fosse feita a retificação. Mas para ter acesso à documentação do Vlado eu precisei entrar na Justiça.”, conta o veterano, que se considera em um momento de “graça”, recompensado pelo trabalho e o pagamento da dívida com o amigo.

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