terça-feira, 15 de outubro de 2013

Cobertura dos protestos de junho foi “bipolar”, avalia Bruno Paes Manso

 

Apesar de ainda não estar registrado nos livros de história, o mês de junho de 2013 já pode ser considerado um momento emblemático para o Brasil. As manifestações populares tomaram as ruas e surpreenderam o país, incluindo os jornalistas, por sua dimensão e descentralização das reivindicações. Envolvida nesse cenário enigmático, a imprensa se viu diante de um “campo minado”, o que resultou em uma cobertura marcada por mudanças de posicionamento na abordagem dos protestos.
“Nós fomos  um pouco bipolares, estávamos assustados, era tudo novo. Depois, houve os ataques da polícia e a gente mudou. E isso faz parte do processo jornalístico, tentar ser honesto com nós mesmos ao mostrar o que está acontecendo”, analisou o repórter do Estado de S. Paulo, Bruno Paes Manso, um dos palestrantes da mesa “Cobertura dos protestos” do terceiro dia (14) da 8ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo.
cobertura dos protestos 14-10 Rodrigo Gomes1
Palestrantes da mesa “Cobertura dos Protestos”
Além das mudanças editoriais, a cobertura dos movimentos de junho foi marcada por um protagonismo da linguagem audiovisual. Telejornais alcançaram audiência recorde ao transmitir os atos das ruas em tempo real e canais da web ganharam destaque. Dentro deste contexto, a TV Folha ousou ao fazer uso de um drone, veículo aéreo não tripulado, para captar imagens dos protestos em São Paulo. “Os drones já existiam, em várias situações eles foram usados, mas nunca em hard news. Foi um momento oportuno para experimentar esta ferramenta, uma solução criativa, já que o helicóptero não consegue capturar imagens tão próximas”, explicou o diretor da TV Folha, João Wainer.
Mas o protagonismo das coberturas na internet foi da Mídia Ninja (Narrativas Independentes Jornalismo e Ação). Apesar de ter sido fundada há dois anos, foi no calor dos protestos que o grupo ganhou visibilidade. Munidos de uma mochila e um celular, os ninjas inovaram com transmissões ininterruptas e ao vivo das manifestações. As imagens veiculadas via stream alcançaram um nível de audiência que surpreendeu os  idealizadores do projeto. O sucesso, segundo o jornalista e membro do coletivo, Bruno Torturra, pode ser explicado pela demanda por novas narrativas. “Há uma expectativa pública por um jornalismo novo. Milhares de jovens já se sentem comunicadores, capazes de narrar o mundo a seu modo”, diagnosticou o ex-diretor de redação da revista Trip.
Por não editar seu conteúdo e dar amplo destaque às vozes das ruas, a Mídia Ninja se tornou uma espécie de representante desses movimentos e acabou gerando, involuntariamente ou não, um antagonismo em relação à mídia tradicional. “Acabamos sendo eleitos heróis e vilões de causas que não são obrigatoriamente nossas”, ressaltou Torturra. O jornalista discorda da visão de que o jornalismo feito pelos grupos hegemônicos de mídia seja dispensável. “Acho perigosa essa ideia de que o jornalismo de massa seja necessariamente ruim”.
Após pouco mais de três meses, ainda é difícil prever o legado deixado pelos protestos de junho de 2013 no Brasil e se eles terão continuidade em 2014, ano em que o Brasil sediará a Copa do Mundo e serão realizadas as eleições presidenciais. Para João Wainer, no entanto, este é um capítulo da história que não se repetirá. “Junho vai ser semelhante a maio de 1968, igual nunca mais”.

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