As novas tecnologias mudaram a concepção do fazer jornalístico.
Para atrair o público não basta contar uma boa história. Pensar a
narrativa em diferentes ângulos também é dever do jornalista que, agora
mais do que nunca, deve atuar em equipe com desenvolvedores e designers.
Amanda Cox – The New York Times (Foto: Rodrigo Gomes/Abraji)
Essa foi a mensagem que Amanda Cox, editora de visualização do The New York Times, e Mariana Santos, designer de narrativas visuais interativas do La Nación, da Costa Rica, deixaram para os participantes da palestra “Narrativas Multimídia”, realizada nessa terça (15), último dia da Conferência Global de Jornalismo Investigativo, no Rio de Janeiro.
Para Amanda, “a narrativa multimídia é capaz de levar os leitores
para lugares que provavelmente nunca poderiam ir”, permitindo um
envolvimento completo com o conteúdo. Essas narrativas procuram contar
a história de forma que os usuários possam entender, consumir e embutir
em suas conversas cotidianas. “Agora o público pode dar a sua versão de
uma história e isso muda o jeito que vemos o mundo. Por que competir se
você pode colaborar? Precisamos mudar a mentalidade que se tinha há
anos atrás. Se queremos fazer jornalismo digital, temos que trazer o
sentimento humano para a internet”, afirma Mariana.
Com as inúmeras variações para a apresentação de um mesmo conteúdo, o
profissional não precisa ficar preso exclusivamente ao texto e pode
abusar de imagens, áudios, vídeos, infográficos, mapas, dentre outros
elementos que permitem uma real percepção dos fatos. Apesar de tanto se
falar na crise do jornalismo, as palestrantes acreditam que o problema
não está na profissão e sim na maneira de explorar as ferramentas
disponíveis na internet para viabilizar uma maior interação. “O
jornalismo não está acabando, só está mudando. Precisamos entender, por
exemplo, que os números também podem contar histórias”, observa Santos.
Mariana Santos – La Nación (Foto: Rodrigo Gomes/Abraji)
O mediador da mesa, Rodrigo Flores,
diretor de conteúdo do UOL, questionou como é possível fazer narrativas
multimídia e ao mesmo tempo dar furos de reportagem. Para Cox, a
internet mudou a forma como produzimos as notícias. “Agora respondemos
por ondas. Informamos imediatamente o furo e depois investimos um pouco
mais de tempo para fazer uma narrativa multimídia mais elaborada, que
permita um maior envolvimento com a história”, explica.
Para iniciar um trabalho multimídia há ferramentas digitais
disponíveis que mudam as narrativas tradicionais de forma simples e
prática, como por exemplo, o Google Refine (para refinar dados), o Infogr.am (para infográficos), a Timeline JS (para linha do tempo) e o MapBox
(para mapas). Segundo Mariana, o olhar online desde o início do
projeto e o trabalho em equipe auxiliam a produção multimídia. “Se eu
trabalhasse por conta própria ainda estaria nos meus esboços. Quando as
pessoas trabalham em equipe trazem suas melhores experiências e se
complementam. Na maioria das vezes os resultados são maiores do que
pensávamos.”
Projeto de narrativas multimídia virá para o Brasil
Mariana Santos, que também é bolsista do Knight International Journalism Fellowship, foi uma das idealizadoras da implantação da equipe interativa do The Guardian. Atualmente, além de trabalhar no La Nación, ela desenvolve o projeto “Chicas Poderosas”,
que busca maximizar o impacto das narrativas multimídia entre mulheres
da América Latina, além de treiná-las para usarem novas tecnologias nas
redações. “Sou obcecada por fazer do mundo virtual algo tão intuitivo
que ninguém precise pensar para consumir histórias”, almeja.
O projeto já foi feito no Chile, na Costa Rica e em Bogotá. Segundo
Santos, está em seus planos trazê-lo para o Brasil. “Estou tentando
convênios com faculdades e empresas da área para viabilizar o projeto
aqui. O Brasil tem um potencial incrível em comunicação visual, mas não
explora completamente, usando somente para coisas isoladas, como
grafites e propagandas. Precisamos reinventar esse tipo de comunicação
associando ao jornalismo, ampliando nossa forma de contar histórias”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário