quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Para os jornalistas refletirem - Por Fernando Molica


A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro continua a errar. Insiste em misturar a condenação aos ataques a jornalistas com a questão da linha editorial dos veículos. A suposta boa intenção de separar jornalistas de empresas jornalísticas cai por terra quando o sindicato faz uma condenação genérica a "veículos da imprensa comercial" - pelo jeito, a diretoria da entidade que deveria representar os jornalistas profissionais acha que os mídias ninjas e que tais fazem uma cobertura isenta, imparcial, objetiva e nada militante. 

A condenação genérica à cobertura das manifestações feita pelo "veículos da imprensa comercial" serve apenas para jogar mais lenha na insensatez dos covardes que insistem em agredir jornalistas em manifestações. Na prática, o sindicato acaba justificando as agressões. A entidade pode condenar esta ou aquela reportagem, pode condenar muitas reportagens, esta ou aquela manchete, mas deve fazê-lo de maneira específica, pontual, sem deixar que esta crítica passe a servir para todas as matérias relacionadas às manifestações. Esta condenação não pode ser feita no mesmo documento em que critica agressões físicas a colegas.

Nota em solidariedade a colegas agredidos não é lugar para se falar em Cláusula de Consciência - isto contribui, insisto, para reforçar a ideia de que todos os jornais, rádios, revistas e TV manipulam todas as informações, especialmente às relacionadas a movimentos sociais. Mais grave: transmite a certeza de uma quase impossibilidade de se fazer jornalismo de qualidade em "veículos da imprensa comercial". Como jornalista que há mais de 30 anos trabalha em "veículos da imprensa comercial", sinto-me ofendido com este tipo de insinuação.

Abaixo, a nota do sindicato:

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro repudia com veemência todas as formas de violência que têm sido praticadas contra os profissionais da imprensa em nossa cidade.

Não para de aumentar o número de casos de agressões contra profissionais de imprensa registrados no relatório que o nosso Sindicato elabora para entregar, em novembro, às autoridades locais e internacionais durante audiência pública que será realizada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, sobre Liberdade de Imprensa e Violência contra Jornalistas.

Há dezenas de registros de ataques cometidos tanto por policiais militares como por manifestantes. Policiais militares têm usado cassetetes e balas de borracha, além bombas de gás lacrimogêneo, para tentar impedir os jornalistas de registrar prisões ou agressões a manifestantes.

Já a alegada revolta de manifestantes contra a linha editorial dos veículos da imprensa comercial jamais poderia justificar os atos de violência que têm praticado contra os jornalistas. Os trabalhadores não podem ser responsabilizados pela linha editorial das empresas nas quais trabalham. Nosso Sindicato defende, inclusive, o valor do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Reivindica o respeito patronal à Cláusula de Consciência, segundo a qual, todo profissional pode se negar a cumprir tarefas que firam a ética e os direitos humanos, sem perder o emprego.

É fato que a luta pela democratização da comunicação é legítima e se trata mesmo de uma bandeira de nosso Sindicato. Mas o direito humano à comunicação deve ser cobrado do Estado. Cercear o trabalho de jornalistas, hostilizá-los ou agredi-los fere gravemente a liberdade de imprensa, a democracia e os direitos humanos.

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